Existe uma relação de poder explícita entre
Hanna e aqueles de quem ela se valia como seus leitores. No caso de Michael,
ela criou um ritual erótico de banho, leitura e sexo, ao qual ele, em plena
adolescência, se submetia com prazer. Já com as
prisioneiras dos campos de concentração, na função de guarda, ela as aliciava à
prática da leitura através da ilusão de que seriam poupadas da morte.
No final de sua narrativa, Schlink demonstra
de forma clara e ilustrativa que é o acesso à leitura que modifica a visão de
mundo de Hanna, a qual ela, apesar de analfabeta, buscava obter através das
práticas de letramento. No momento do seu suicídio (simbolicamente feito com o
apoio de livros) ela mostra, através da suposta “indenização” deixada àquela
que no passado a reconhecera e distinguira entre as demais guardas nazistas,
uma forma de pedido de perdão. É interessante observar que esse dinheiro foi
recolhido ao longo de vinte anos dentro de uma lata de chá, cuja simbologia
literária também fica esclarecida no final do livro, finalizando-se como
tesouro em comum entre Hanna e a sobrevivente que ela indenizara.
Não houve perdão, por certo, mas houve partilha.
Houve também a reversão
do dinheiro deixado por Hanna para uma instituição alfabetizadora de judeus.
Talvez essa sugestão de Michael tenha sido significativa em redimir o processo
de vergonha e impossibilidades da sua antiga amante, cuja restrição a levara a
caminhos tão cruéis, indecentes e difíceis.
Apesar
de um trabalho aparentemente muito específico, podemos encontrar em vários
momentos de nossas vidas atuais, pessoas que agem como Hanna, porque não sabem
como agir ou não sabem questionar ordens. Por coincidência, durante o período de
elaboração desse trabalho, ocorreu o incêndio em Stª Maria- RS, onde os seguranças
da Boate Kiss, impediram a saída dos jovens por estarem designados a impedir a
saída de clientes sem comanda e sem perceber, ampliaram o número de vítimas.
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