Trata-se da história de uma balzaquiana Hanna
Schimtz, narrada pelo advogado Michael Berg, no ano de 1995, em forma de
memórias dos acontecimentos vividos entre eles em 1958, início de sua
adolescência.
O cenário é a cidade de Neustadt, Alemanha
Ocidental e a obra inicia-se com o encontro
involuntário dos dois personagens na rua, quando Michael doente, vomita e é
auxiliado por Hanna. Posteriormente, eles passam à condição de amantes.
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Hanna é uma mulher de personalidade dura e
misteriosa. Ela cria com o amante um ritual de leitura, banhos e sexo. A cada
encontro Michael torna-se cada vez mais dependente da sua presença e, apesar de pertencerem a mundos distintos, o relacionamento
transcorre em meio à leitura de diversas obras
literárias como a “Odisséia”, de Homero, “A Dama do Cachorrinho”, de Anton
Checkhov (1890), e “As aventuras de Huckleberry Finn”, de Mark Twain (1884), lidas
com interpretação teatral pelo jovem, levando muitas vezes Hanna às lágrimas ou
ao riso eloquente.
Nesse período, Hanna trabalha como fiscal de bonde,
cargo que não requeria alfabetização; ao ser promovida para trabalhar no
escritório, ela abandona a empresa e também o apartamento onde se encontrava
com Michael sem deixar qualquer explicação ou pista de seu paradeiro.
Eles passam oito anos sem notícias um do
outro, até que, em 1966, Michael, já como estudante de Direito na renomada
Universidade de Heidelberg, a reencontra durante um julgamento, no qual algumas
mulheres eram acusadas de provocar a morte de cerca de 300 judias, num incêndio
ocorrido em 1944, no interior de uma igreja, cuja porta fora lacrada por elas
para impedir a fuga das prisioneiras.
Apesar de Michael estar mais maduro, a
presença de Hanna ainda é profunda e significativa em sua vida. Ele passa,
silenciosamente, a acompanhar o julgamento dela e das demais ex-funcionárias da
SS.
Ao longo do julgamento, Ilana Mather, uma das
sobreviventes do campo de concentração onde Hanna trabalhava, a reconhece e
descreve-a como diferente das demais guardas. Relata que Hanna tratava as
prisioneiras que liam para ela de forma especial, o que as fazia crer que elas
não seriam mortas, mas, na verdade, terminavam sendo justamente essas, as
primeiras enviadas para câmara de gás.
Durante uma das sessões, Hanna é acusada pelas
demais rés de ter redigido o relatório sobre o acontecido no inverno de 1944,
quando prisioneiras foram transferidas em uma operação que, devido à
precariedade de condições, foi denominada como “Marcha da Morte”. Segundo uma
das sobreviventes, durante a viagem, houve uma parada em uma igreja, que foi cuidadosamente
fechada pelas guardas para evitar a fuga das prisioneiras. Entretanto, de madrugada,
ocorreu um bombardeio que causou um incêndio na igreja, fazendo com que as 300
mulheres lá confinadas tentassem escapar, sem sucesso, pelas portas que não
foram abertas pelas guardas.
Hanna
nega com convicção ser autora do relatório, gerando ainda mais conflito em
plenário. Para por fim ao impasse, o juiz solicita um teste grafológico.
Apavorada com a possibilidade de ser exposta como analfabeta, ela decide
assumir sozinha a culpa pelo relatório, sendo condenada a prisão perpétua,
enquanto as demais recebem penas menores. Diante disso, Michael relembra do
relacionamento deles e percebe que em todas as situações de leitura, ela se esquivava.
Conclui, então, ser esse o seu grande segredo: Hanna amava a leitura, mas era
analfabeta e se envergonha tão profundamente dessa condição que preferia ser
condenada a um crime que não cometera a expor-se.
Dividido entre revelar o que sabia e a
vergonha de assumir que tivera um envolvimento amoroso com uma ex-guarda
nazista, Michael decide silenciar e seguir em frente. Torna-se advogado,
casa-se, tem uma filha e separa-se. A lembrança de Hanna ainda o perturba e ele
resolve voltar a ler para ela, enviando-lhe, anonimamente, fitas cassetes
gravadas com a mesma narração dramatizada dos livros que outrora lera para ela,
que de imediato, reconhece a voz de Michael.
Com uma longa sentença a cumprir, Hanna busca
cruzar os sons das narrativas de Michael com os livros que ela encontra na
biblioteca da prisão. Finda por aprender a ler e passa a se
corresponder com ele, que não responde a nenhuma de suas mensagens, apesar de
guardá-las.
A libertação existencial de Hanna chega
através das práticas de leitura adquiridas na prisão, auxiliando-a a remodelar
sua visão de mundo.
Já Michael, que vive o drama de ser a primeira
geração pós-nazimo, em que é possível perceber o quanto a consciência alemã
ainda é assombrada pelas atrocidades reveladas, acompanha o processo de
julgamento dividido entre a mulher que amara e o segredo que a condenaria,
sozinha, a um crime que ela sequer conseguia compreender.
Passaram-se vinte anos e Michael era a única pessoa
com quem Hanna tinha contato fora da prisão. Quando sua pena é revista e ela
obtém liberdade condicional, a agente penitenciária procura Michael para
que ele se torne o preceptor de Hanna, auxiliando-a em seu retorno à sociedade,
providenciando-lhe moradia e início de subsistência.
O reencontro deles é frio e distante, mas
Michael está disposto a auxiliá-la fora da prisão, Hanna, porém, já consciente
de sua culpa, não encontra mais motivos para continuar viva e, no dia de sua
libertação, monta uma pilha de livros, que utiliza como cadafalso para se
enforcar dentro da cela. Ela deixa uma carta à assistente social, com
instruções de solicitar a Michael entregar para Ilana Mather as economias arrecadadas
por ela durante os vinte anos de prisão
(que estão dentro de uma lata de chá). Ilana se recusa a receber a doação,
alegando que aceitá-la significaria perdoar Hanna.
Comovido, Michael narra rapidamente seu
envolvimento com Hanna na juventude e pergunta se Mather se oporia em doar o
dinheiro a uma organização judia para analfabetos, pois sabe a importância
simbólica que esse gesto teria para Hanna e assim é feito.
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