É através de uma história que se pode descobrir outros
lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra
ética, outra ótica... É ficar sabendo história, filosofia, direito, política,
sociologia, antropologia, etc. sem precisar saber o nome disso tudo e muito
menos achar que tem cara de aula (ABRAMOVICH, 1997, p.17).
O ato de ler vai
muito além do reconhecimento dos signos alfabéticos, Viera¹ conclui que a produção
de sentidos ocorre a partir da vivência do leitor, sua visão de mundo e todas
suas experiências anteriores de leitura, portanto, a leitura é um processo amplo
e complexo, que precisa ser aprendido em conjunto, no decurso da convivência
social, pois, grande parte da literatura se produz pela da observação do autor
sobre seu mundo interior, de como ele enxerga o indivíduo em seu momento pessoal,
familiar, histórico, seus valores morais, sociais, culturais, etc., produzindo
seres singularmente únicos.
O trabalho do leitor
na construção do significado do texto é sempre ativo. Segundo Coelho² “a
leitura, no sentido de compreensão do mundo é condição básica do ser humano.”
Para Finazzi (FINAZZE,2010),
o processo de desenvolvimento humano ocorre durante toda vida de forma contínua
e ininterrupta, “no qual os aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais
se interconectam, se influenciam reciprocamente.”
A pesquisa
multidisciplinar, “A Criança e a Importância da Literatura Infantil”³, afirma
que a criança estimulada a ler desde cedo, adquire o hábito, aprendendo a
extrair dele inúmeras experiências pessoais, propiciadas pelas situações
vividas pelos personagens. Esse envolvimento: leitor x leitura é individual e único.
Os estímulos advindos da atividade leitora são imensuráveis, já que não é
possível prever o tipo de impacto que determinado conhecimento, frase ou
situação pode trazer para cada um, modificando sua visão de mundo e de cotidiano
ou como isso influenciará sua atuação dentro da sociedade, seja no convívio
familiar, profissional, religioso, etc. Ainda em Vieira (VIEIRA, 2010),
encontramos a afirmação “O indivíduo modifica sua visão de mundo através da
leitura, não pela sua forma”.
Para a Profª. Mônica
Cavalcanti, a compreensão leitora ocorre simultaneamente em três níveis
básicos: sensorial, emocional e racional mas, dependendo do interesse e
expectativa do leitor, cada um desses níveis será mais ou menos estimulado para
que o leitor construa sentidos para o texto de acordo com sua percepção
pessoal.
Ela reforça esse
pensamento ao citar Martins, que distribui a compreensão leitora da seguinte
forma:
Leitura
sensorial (que representa momentos iniciais da relação da criança com
o mundo); leitura emocional ou subjetiva (que enfatiza as emoções do leitor
misturadas às emoções do autor, situação de empatia); leitura de passatempo
(lazer); leitura de evasão (usada como válvula de escape); e leitura
racional (que enfoca o intelectualismo e tende a ser unívoca).” (grifos
meus) (MARTINS, 1994, pág.30)
Isso nos leva a crer
que esse processo deixa marcas cumulativas e amplificadoras no ser humano,
logo, é impossível saber quais modificações legítimas se operam no íntimo do
leitor quando ele modifica sua visão de mundo à medida que os livros lhe trazem
ou acrescem diversas formas de percebê-lo.
Talvez, para aqueles
que não conseguem adquirir proficiência leitora, exista um abismo inconsciente
e difícil de transpor, porque a falta de conhecimento marginaliza, oprime e
manipula o indivíduo desde a era pré-histórica, escraviza diversas sociedades,
cria líderes inescrupulosos, retroalimenta a corrupção, perpetua a impunidade e
as diferenças sociais. Freire (1983, p.79) já advertia que: “ninguém educa
ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo; os homens se educam em
comunhão, mediatizados pelo mundo”. Logo, o caráter social da leitura está
inserido em nosso dia-a-dia e diz respeito ao que somos, ao tipo de sociedade
que aceitamos aos conceitos de certo ou errado, à formação moral que adquirimos
e, sobretudo, é a alimentação da nossa consciência enquanto humanos, pais,
filhos, patrões empregados, vizinhos, amigos, etc.
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