sábado, 2 de novembro de 2013

TCC - Capítulo 1 - A Formação da Consciência Individual e a Leitura.

É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula (ABRAMOVICH, 1997, p.17).

O ato de ler vai muito além do reconhecimento dos signos alfabéticos, Viera¹ conclui que a produção de sentidos ocorre a partir da vivência do leitor, sua visão de mundo e todas suas experiências anteriores de leitura, portanto, a leitura é um processo amplo e complexo, que precisa ser aprendido em conjunto, no decurso da convivência social, pois, grande parte da literatura se produz pela da observação do autor sobre seu mundo interior, de como ele enxerga o indivíduo em seu momento pessoal, familiar, histórico, seus valores morais, sociais, culturais, etc., produzindo seres singularmente únicos.
O trabalho do leitor na construção do significado do texto é sempre ativo. Segundo Coelho² “a leitura, no sentido de compreensão do mundo é condição básica do ser humano.”
Para Finazzi (FINAZZE,2010), o processo de desenvolvimento humano ocorre durante toda vida de forma contínua e ininterrupta, “no qual os aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais se interconectam, se influenciam reciprocamente.”
A pesquisa multidisciplinar, “A Criança e a Importância da Literatura Infantil”³, afirma que a criança estimulada a ler desde cedo, adquire o hábito, aprendendo a extrair dele inúmeras experiências pessoais, propiciadas pelas situações vividas pelos personagens. Esse envolvimento: leitor x leitura é individual e único. Os estímulos advindos da atividade leitora são imensuráveis, já que não é possível prever o tipo de impacto que determinado conhecimento, frase ou situação pode trazer para cada um, modificando sua visão de mundo e de cotidiano ou como isso influenciará sua atuação dentro da sociedade, seja no convívio familiar, profissional, religioso, etc. Ainda em Vieira (VIEIRA, 2010), encontramos a afirmação “O indivíduo modifica sua visão de mundo através da leitura, não pela sua forma”.
Para a Profª. Mônica Cavalcanti, a compreensão leitora ocorre simultaneamente em três níveis básicos: sensorial, emocional e racional mas, dependendo do interesse e expectativa do leitor, cada um desses níveis será mais ou menos estimulado para que o leitor construa sentidos para o texto de acordo com sua percepção pessoal.
Ela reforça esse pensamento ao citar Martins, que distribui a compreensão leitora da seguinte forma:
Leitura sensorial (que representa momentos iniciais da relação da criança com o mundo); leitura emocional ou subjetiva (que enfatiza as emoções do leitor misturadas às emoções do autor, situação de empatia); leitura de passatempo (lazer); leitura de evasão (usada como válvula de escape); e leitura racional (que enfoca o intelectualismo e tende a ser unívoca).” (grifos meus) (MARTINS, 1994, pág.30)

Isso nos leva a crer que esse processo deixa marcas cumulativas e amplificadoras no ser humano, logo, é impossível saber quais modificações legítimas se operam no íntimo do leitor quando ele modifica sua visão de mundo à medida que os livros lhe trazem ou acrescem diversas formas de percebê-lo.

Talvez, para aqueles que não conseguem adquirir proficiência leitora, exista um abismo inconsciente e difícil de transpor, porque a falta de conhecimento marginaliza, oprime e manipula o indivíduo desde a era pré-histórica, escraviza diversas sociedades, cria líderes inescrupulosos, retroalimenta a corrupção, perpetua a impunidade e as diferenças sociais. Freire (1983, p.79) já advertia que: “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo; os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. Logo, o caráter social da leitura está inserido em nosso dia-a-dia e diz respeito ao que somos, ao tipo de sociedade que aceitamos aos conceitos de certo ou errado, à formação moral que adquirimos e, sobretudo, é a alimentação da nossa consciência enquanto humanos, pais, filhos, patrões empregados, vizinhos, amigos, etc.


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